sábado, 18 de abril de 2020

NA FILA DO CAIXA

(Cícero Manoel)


Bem cedo saí de casa
Com um boleto na mão
E fui pagá-lo no caixa,
Lá perto da estação.
Ao chegar, vi uma fila
Que dobrava o quarteirão.


Sem obedecer as regras
Que o cartaz alertava,
Na porta, uma multidão,
Ali, se aglomerava,
Máscara quase ninguém,
Naquela hora usava.


Quando me aproximei,
Uma senhora na frente:
Ao ver a máscara minha,
Olhou-me indiferente
E se afastou achando
Que eu estava doente.


Fiquei ali no meu canto
Afastado dos demais,
E ali naquela fila
No que se falava mais,
Era no famoso auxílio:
O de seiscentos reais.


Então, pude perceber
Naquele povo faceiro,
Que alguns estão focados
Mais em receber dinheiro
Do que proteger a vida
Nesse tempo traiçoeiro.


Ouvi um homem dizer
Se expressando muito mal:
“Minha gente, esse corona,
Só tem lá na capital,
Ele não chega aqui não,
É assombro do jornal!”


Um bêbado rebateu
Pra completar a desgraça:
“Corona não me faz medo,
Se ele chegar na praça,
Eu pego ele de mão
E engulo com cachaça!”.


Uma crente abriu a boca
E disse assim com fervor:
“Essa doença não vem
Para o nosso interior,
Porque estamos blindados
Com o poder do Senhor!”


Com Seiscentos no seu bolso
Disse um pobre em alto tom:
“Não votei no presidente,
Achei que não tinha dom.
Mas depois dessa ajuda...
Eita, presidente bom!”


Quando paguei meu boleto
Voltei pra casa apressado.
Pensando naquela gente,
Bastante preocupado.
Triste do pobre inocente
Que vive desinformado.


Residencial Jussara, Santana do Mundaú-AL

17 de abril de 2020

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