quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

PASSARINHO




Passarinho tu que pousas
Aí, num galho de pau,
Ser puro da natureza,
Ser que não pratica o mal,
Vou dialogar contigo
Meu precioso pardal.

Passarinho a tua casa
Se perde na imensidão.
Já a minha, passarinho,
É próxima a um ribeirão
Onde cultivo a saudade
E as mágoas do coração.

Passarinho do meu canto
Eu ouço você cantar.
Vejo que estás alegre,
Já, não posso me alegrar.
O meu coração de dores
Bate no peito a chorar.

Passarinho não me venhas
Pousar na minha janela,
Pra não cantar melodia
Tão bonita e tão singela...
Pois não quero recordar
O olhar de uma donzela.

Passarinho eu te vejo
Batendo as asas, voando...
Também queria voar,
Sair no mundo vagando
E nos grutilhões da terra
Ir minhas mágoas deixando.

Passarinho eu te vejo
Com a sua companheira.
A cubra com suas asas
E voe além da fronteira
Me deixe aqui meditando
Prostrado nessa cadeira.

Cícero Manoel
Viçosa-AL
16 de novembro de 2014

TROVOADA EM MINHA TERRA

(Cícero Manoel)




Eu tava vindo da roça 
Quando o céu escureceu,
Senti uns pingos de chuva,
Um relâmpago desceu,
Lá no céu deu um estrondo
Que a terra estremeceu.


Eu fiz carreira pra casa
Com a enxada de lado.
A chuva foi aumentando
Eu fui ficando molhado
E a dez metros de casa
Já tava todo ensopado.


No alpendre da choupana
Joguei ligeiro a enxada,
A mulher abriu a porta
Me olhando amedrontada,
Tirei as botas ligeiro
E entrei com a coitada.


Tirei a roupa molhada
Botei logo uma enxuta
E fiquei numa janela
Junto da minha matuta
Olhando a chuva caindo
Na nossa terrinha bruta.


Jesuíno, meu miúdo,
Nos braços da mãe chorava.
Fechava os olhos com medo
Quando o trovão estalava,
Raimundinha assustada
Comigo se agarrava.


No estrondo do trovão
Meu guenzo deu um latido,
Emburacou pela porta
Andando meio perdido,
Foi pra debaixo da cama
E lá ficou encolhido.


O que via pela frente.
O vento ia balançando.
De repente uma pingueira
A cama tava molhando,
Me trepei num tamburete
E fui a telha ajeitando.


Assustada com os ventos
Minha mulher foi rezar,
Botou um terço na mão
E na frente do altar,
Ajoelhou-se pedindo
Pra tempestade abrandar.


Assim que a tempestade
Deu adeus e foi embora,
Eu, a mulher e os filhos
Fomos pro lado de fora
Nos deliciar na lama
Que ficou pra nós agora.


Nossa terra tava seca,
Há meses que não chovia...
A trovoada de hoje
Trouxe medo e alegria,
Levou embora o calor
E deixou a brisa fria.



Residencial Jussara, Santana do Mundaú-AL
21 de janeiro de 2020