quinta-feira, 30 de setembro de 2021

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO E FUNDAÇÃO DA AALC – ACADEMIA ALAGOANA DE LITERATURA DE CORDEL

Os passos que ruminaram na fundação da AALC – Academia Alagoana de Literatura de Cordel começaram em abril de 2017, quando Mira Dantas convidou os cordelistas Cícero Manoel, Cristóvão Augusto e Jorge Calheiros, para ministrarem uma palestra sobre Literatura de Cordel, na Biblioteca Pública Estadual  Graciliano Ramos, onde era coordenadora.

No dia da palestra, apareceram três cordelistas iniciantes, Marcos Brandão e o casal Alexandra Lacerda e Ciro Veras. Ao final da palestra os cordelistas se reuniram para trocar cordéis e Cícero Manoel, que já mantinha contato com Cristóvão Augusto e outros poetas do estado, sugeriu a criação de uma associação de cordelistas alagoanos para unirem forças em nome da Literatura de Cordel. 

 

Cordelistas reunidos após a palestra realizada em 27 de abril de 2017.

Depois daquela palestra, os cordelistas foram mantendo contato pelas redes sociais e marcaram uma reunião na Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos para acenderem a ideia da criação da associação.

A reunião aconteceu em 23 de maio de 2017 e estiveram presentes: Mira Dantas, Cristóvão Augusto, Jorge Calheiros, Cícero Manoel e sua namorada Edivania Silva, Alexandra Lacerda, Ciro Veras e sua mãe. Durante a reunião os poetas expuseram a ideia da criação da associação dos cordelistas alagoanos.  Foi então, que Mira Dantas sugeriu a criação de uma academia. Recordaram, os poetas, que já existiam algumas academias de Literatura de Cordel em outros estados e por unanimidade votaram pela criação de uma academia.

 

 
Reunião de 23 de maio de 2017.

Passaram-se alguns meses e os cordelistas só voltaram a se reunir em 15 de setembro daquele ano. Estiveram presentes, os poetas: Ciro Veras, Alexandra Lacerda, Cícero Manoel, Cristóvão Augusto, Jorge Calheiros, Maria José de Oliveira, a "Mariquinha" (1960-2019) e Manoel Apolônio. Vale destacar o não comparecimento do poeta José Nascimento, que não pode participar da reunião, mas estava engajado no projeto.

Naquela reunião Ciro Veras e Cristóvão Augusto apresentaram o primeiro estatuto. Aquele momento marcou a criação da AALC - Academia Alagoana de Literatura de Cordel. Ali também foi criada a primeira diretoria:

 

Presidente: Ciro Veras

Vice-presidente: Cristóvão Augusto

Tesoureira: Alexandra Lacerda

Secretário: José Nascimento

Assessor de comunicação: Cícero Manoel

Conselho fiscal: Jorge Calheiros, Manoel Apolônio e Mariquinha

 

Também ficou decidida naquela reunião a data da fundação da academia. Com o total apoio de Mira Dantas, foi escolhida a tarde do dia 30 de setembro, durante a 8ª Bienal do Livro de Alagoas e a solenidade aconteceria no estande da SECULT.

 

 
Reunião para apresentação do estatuto e criação 
da primeira diretoria da AALC, em 15 de setembro de 2017.

 

A solenidade de fundação da AALC aconteceu às 14h do dia 30 de setembro de 2017. Estiveram presentes sete dos oito fundadores. Alexandra Lacerda, Cícero Manoel, Ciro Veras, Cristóvão Augusto, Jorge Calheiros, Manoel Apolônio e José Nascimento. A cordelista Mariquinha não pode estar presente.

Também participaram do momento outros cordelistas que logo após a fundação procuraram o presidente Ciro Veras para adentrarem na Academia. Entre eles estavam, Marcos Brandão, Charles César e Silvano Gabriel. Também participaram da solenidade, representantes da Academia Sergipana de Literatura de Cordel e o professor e poeta Cosme Rogério. O encerramento se deu com os poetas recitando cordéis.

 Apresentação dos fundadores da AALC em 30 de setembro de 2017.
 

 Fundadores e participantes da fundação da AALC em 30 de setembro de 2017.

Para sede da academia recém-criada, Mira Dantas cedeu uma sala no sótão da Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos. A sala ganhou uma linda ornamentação feita por Alexandra Lacerda e Ciro Veras. Com a entrada de novos membros para ocuparem as cadeiras vagas, foi definida uma data para a inauguração da sede e para a entrega dos certificados de membros efetivos da AALC.

Em 23 de abril de 2018 a maioria dos membros se reuniram na sede para participarem da sua inauguração. O momento contou com uma apresentação da dupla de repentistas, João Procópio e Inácio Medeiros, além de recitação e lançamento de cordéis.

 

Inauguração da sede da AALC em 23 de abril de 2018.
 

Cordelistas expondo seus certificados 
de membros efetivos da AALC em 23 de abril de 2018.

 

 

sábado, 19 de junho de 2021

APELO DE UM DONZELO

 

(Cícero Manoel)

 

 

 

Eu não sou um rapaz feio,

Mãe disse que sou bonito.

Pois como mãe nunca mente,

Na minha mãe acredito.

Não ando desarrumado,

Também não sou esquisito.

 

 

Sou muito trabalhador,

Tenho terra pra plantar.

Dinheiro tenho de sobra,

Tenho casa pra morar.

Só falta mesmo uma moça

Pra comigo se casar.

 

 

Mas pro lado de namoro

Minha vida é azarada,

Desde os meus dezoito anos

Que procuro namorada.

Já vou fazer trinta e nove

E nunca achei uma amada.

 

 

E eu não tenho vergonha

De dizer que sou donzelo.

Eu não consigo entender

Porque um moço tão belo

Nunca acha uma mulher

Pra cuidar do seu castelo.

 

 

Se eu paquero uma moça

Levo logo um “fora” dela.

Mandei um beijo pra uma,

Outro dia, da cancela.

Ela jogou-me uma pedra

Que feriu minha costela.

 

 

Beijo na boca, eu confesso,

Eu só dei um nessa vida.

Foi numa velha banguela

Que era muito enxerida,

A velha lambeu meu beiço

E me deu uma mordida.

 

 

Paguei a uma mulher

Pra ela dormir comigo,

Mas paguei adiantado

E lhe esperei no abrigo,

Ela levou meu dinheiro

E dormiu com meu amigo.

 

 

Amei uma linda moça,

Quase morri de desgosto,

Falei pra lhe namorar

Numa manhã de agosto,

A moça cuspiu no chão

E deu-me um tapa no rosto.

 

 

Uma moça encalhada

Um dia me escreveu.

Queria casar comigo,

Uma esperança nasceu.

No dia que eu fui lhe ver

A miserável morreu.

 

 

Não posso morrer solteiro

Vou casar se deus quiser!

Não posso morrer donzelo

Preciso de uma mulher.

Só vou ter felicidade

Quando uma esposa eu tiver.

 

 

Se você sabe onde tem

Uma moça encalhada,

Que queira um rapaz bonito,

Com uma vida arrumada,

Fale de mim para ela,

Por favor, não custa nada!

 

 

Se você está solteira

E procura um namorado,

Pode vir me procurar

Que eu sou um moço prendado,

Lhe serei muito fiel

E muito apaixonado.

 

(Residencial Jussara – Santana do Mundaú – AL / 11 de junho de 2021)

segunda-feira, 12 de abril de 2021

A MULHER DA FACE OCULTA


 
Em tempo de pandemia
Pra não ser contaminado,
O cara pra todo canto
Tem que andar mascarado.
Por causa disso eu passei
Por um sufoco danado.
 
Outro dia pro trabalho
Peguei uma lotação
E no lugar do meu lado
Em certa ocasião,
Sentou-se uma mulher
Que prendeu minha atenção.
 
De cara eu vi que a mulher
Era um pouco madura,
Mas tinha um corpo bem feito,
Com uma linda cintura
E um cabelo escorrido
Que lhe dava formosura.
 
Fiquei uns cinco minutos
Somente olhando pra ela.
Eu olhava assim de lado
E pensava: “Como é bela!”
Mas a máscara que usava
Encobria o rosto dela.
 
Puxei conversa um momento
E lhe perguntei assim:
- Dona, você é solteira?
Ela me respondeu: - Sim!
Vivo à procura de alguém
Que queira cuidar de mim!
 
Eu falei: - E esse alguém,
Quem sabe se não sou eu!
Pedi então seu contato
E ela logo me deu.
Mas logo se despediu,
No outro ponto desceu.
 
Naquela mulher formosa
Fiquei o dia a pensar.
À noite liguei pra ela
Pedi pra lhe encontrar
E ela me disse assim:
- Venha comigo jantar.
 
Fui então a sua casa
E quando lá eu cheguei
Quando ela abriu a porta
Confesso, me assustei,
Me arrependi da hora
Que por ela procurei.
 
Aquela mulher que eu
Considerava tão bela,
Tinha um corte na buchecha,
A boca toda banguela,
Bigode e barba no queixo,
Parecendo uma mazela.
 
Seu nariz era roído
Como se fosse rasgado.
A língua cortada ao meio,
Um dente todo estragado,
Beiço enfolado pra fora,
Uma verruga de lado.
 
Eu disse: - A peste é quem vai,
Jantar com essa pintura!
Logo desapareceu
Toda a sua belezura,
Dei meia volta e corri
Pra longe da criatura.
 
Em casa eu apaguei
O seu contato ligeiro
E rezei pra nunca mais
Topar com o seu roteiro.
Hoje eu só paquero alguém
Se eu ver o rosto primeiro.
 
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Cícero Manoel
Santana do Mundaú – AL
11 de abril de 2021
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Foto: Madalena Nascimento