sábado, 30 de novembro de 2013

RELATO DA ENCHENTE DE 2010 EM SANTANA DO MUNDAÚ



(Autor: Cicero Manoel)


Com caneta e papel
Sentado numa cadeira,
Vou contar neste cordel
Uma história verdadeira
Terminada em tragédia
Destroços e bagaceira.

Dia 14 de Junho
De 2010 então,
Santana do Mundaú
Com sua população
Completou 50 anos
De sua emancipação.

Houve uma festa bonita
Feita pra comemorar,
Banda Gatinha Manhosa
Fez a cidade dançar,
Mas deixa que o pior
Estava por esperar.

Dia 18 de Junho
Por volta da madrugada
No Vale do Mundaú
Começou a chuvarada
Por estradas e barrancos
Descia a enxurrada.

O dia amanheceu chovendo,
A chuva continuou,
Naquela manhã de Sexta
Choveu e não estiou
Choveu o resto da tarde
E a chuva não parou.

O tempo só estiou
Já na outra madrugada,
Quando o Sábado raiou
Eu peguei uma estrada
E fui olhar os estragos
De toda a chuvarada.

O estrago que causou
Agora vou relatar:
O estrago foi enorme,
Meu Deus foi de assombrar!
O que a chuva causou
Não dava pra acreditar.

A chuva encheu os riachos
Que ligeiro transbordaram,
Acabou com as estradas
Grandes crateras ficaram,
Com a erosão da água
As barreiras arriaram.

Nosso Rio Mundaú
Botou uma grande enchente,
Desceu lá de Pernambuco
Assombrando toda gente,
No estado de Alagoas
Ela chegou de repente.

Lá dentro de Mundaú
À tarde a cheia chegou,
A água tomou as ruas,
A cidade inundou,
Só quem morava nos altos
Foi quem dela escapou.

A água entrou nas casas,
O povo chegou correr,
Foi pros lugares bem altos
Para a vida não perder,
A água cobriu as casas,
Móveis chegaram descer.

Foi-se a Rua da Cacimba
E a Rua da Baixinha,
A Farmácia Santo Antônio
Caiu com o prédio que tinha
E no Mercadinho Esquina
Desceu tudo que continha.

A cidade acabou-se
Foi triste o que aconteceu,
O Mercado Econômico
Do chão desapareceu
E a calçada da igreja
A cheia ainda lambeu.

Na Rua Pereira Maia
Nas casas a água entrou,
A Cohab da cidade
Quase toda se acabou
E o prédio dos Correios
Somente o lugar ficou.

Foi-se o Mercado de Carne
Também o de cereais,
Foi-se o Posto de saúde
Muitas casas principais
Desceu a biblioteca
Com livros especiais.

O prefeito Elói da Silva
Da cheia não escapou,
Só com a roupa do couro
Nas ruas ele ficou
E seu casarão do sítio
Somente o lugar restou.

Pois as águas só baixaram
Na manhã do outro dia,
Pelas ruas da cidade
Foi uma enorme agonia
Centenas de Mundauenses
Ficaram sem moradia.

Muitos ficaram sem tetos,
Sem lugar para morar,
Na Escola Monsenhor Clóvis
Muitos foram se arranchar
Padre Nilton na igreja
Muitos chegou abrigar.

A cidade destruiu-se
Tudo ficou arrasado,
Bem na cabeça da ponte
Ficou um rombo danado,
Nas ruas ficou crateras
Com lama pra todo lado.

Muita gente perdeu tudo
Mas conseguiu escapar,
Só com a roupa do couro
Muitos chegaram ficar,
Vendo seus tetos caídos
Sem podê-los levantar.

No meio daquela enchente
Muitas pessoas ficaram,
Em seus primeiros andares
Onde então se abrigaram
Sentiram o cheiro da morte
Por milagre escaparam.

Cercados pela enchente
Que lá de cima descia,
Só Deus para socorrê-los
Foi horror naquele dia
Se os seus prédios caíssem
Todo mundo morreria.

Mas graças a nosso Deus
Muita gente não morreu,
Na cidade só um homem
Com o seu prédio desceu
Ficou desaparecido
Com certeza faleceu.

Até Seu Ciço da Ponte
Com a família correu,
A sua casa inundou
E por pouco não cedeu,
Na barreira de piçarro
A água ainda bateu.

Foi essa a maior enchente
Que o Rio Mundaú botou,
A famosa Ponte Nova
Nessa enchente arriou
Caiu quase por inteiro
Mas um pedaço ficou.

Pra ver a ponte caída
Muita gente foi olhar,
O pessoal ficou preso
Sem ter como atravessar
O povo de vários sítios
Ficou sem poder passar.

No outro lado da pista
Ninguém podia chegar,
Só chegava lá pista
Quem conseguisse nadar
Mas logo deram um jeito
Que deu pra remediar.

Lá no pedaço da ponte
Que ficou bem atrepado,
Coloram uma escada
Do chão pro taco quebrado
Com isso o povo subiu
Pra chegar no outro lado.

Já que a escada era o jeito
Pra atravessar o rio,
Subia gente com medo
Tremendo com calafrio,
Subia moça, menino,
Mulher vovô e titio.

Por esse tempo Alagoas
Foi o centro do Brasil,
Pra ajudar Alagoas
Muita gente se uniu,
E até o presidente Lula
Pra Alagoas seguiu.

Toda imprensa do Brasil
Veio a nossa região,
Filmar todo o sofrimento
Da nossa população
Fomos a grande notícia
Do rádio e televisão.

Concluo aqui os meus versos
Iniciando uma prece
Cicero Manoel termina
Esse cordel e agradece
Rogando a Nosso Senhor
O Deus que me fortalece.

(Sítio Ilha Grande / Santana do Mundaú – AL / 24 de junho de 2010)


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

VERSANDO SOBRE O FORRÓ



DESAFIO FEITO POR: CICERO MANOEL E  REJANE CÉSAR

Cicero Manoel

EU AQUI DE MUNDAÚ,
REJANE DE MACEIÓ,
VAMOS FAZER ALGUNS VERSOS ,
VAMOS VERSAR SEM TER DÓ
PARA FALAR UM POUQUINHO
AQUI SOBRE O FORRÓ.

Rejane César

EU AQUI EM MACEIÓ
RESPONDO COM EMOÇÃO
VAMOS FALAR DE FORRÓ
POR SER UMA BOA OPÇÃO
DE DANÇAR E CANTAR MUITO
NÃO ESQUECENDO O CORAÇÃO.

Cicero Manoel

QUANDO A SANFONA TOCA
E A ZABUMBA FAZ ZOADA,
O CORAÇÃO SE ANIMA
SEJA TARDE OU MADRUGADA,
E BATE ACELERADO
NO MEIO DA BATUCADA.

Rejane César

E NO MEIO DA BATUCADA
EU ME ANIMO NUM SEGUNDO
PORQUE SENDO DE FORRÓ
ESTOU PRA VER NESSE MUNDO
QUEM GOSTA MAIS DO EU
ME DIGA SENÃO LEVA CHUMBO.

Cicero Manoel

GOSTO TAMBÉM DE FORRÓ
UMA DANÇA CAPRICHOSA,
FICO DOIDO NUM FORRÓ
QUANDO VEJO UMA ROSA
REQUEBRANDO NO SALÃO
BONITA TODA FORMOSA.

Rejane César

CARO CICERO MANOEL
TE FALO AQUI NESSE INSTANTE
CUIDADO QUANDO CHEGAR
NUMA DANÇA INTERESSANTE
GRUDAR O OLHO NUM DAMA
E SAIR SEM TER SEMBLANTE!

Cicero Manoel

LHE DIGO EU NÃO ME ENGANDO
MULHER EU CONHEÇO BEM,
CADA PALMO DO SEU CORPO
O CHEIRO QUE ELA TEM
DE DAMO EU PASSO POR LONGE
VÁ PRA CASA DE XERÉM.

Rejane César

ME DIGA QUAL A RECEITA
A FÓRMULA PRA DANÇAR BEM ?
PORQUE AQUI NESSA TERRA
NÃO EXISTE MAIS NINGUÉM
QUE SAIBA DANÇAR FORRÓ
IGUAL A MIM SÓ NO ALÉM!

Cicero Manoel

NA MINHA OPINIÃO
A RECEITA PRA DANÇAR,
É SÓ SEGUIR A BATIDA
VER A SANFONA CHORAR,
E O CORPO DE UMA MULHER
PRA NELE A GENTE GRUDAR.

Rejane César

É NO FORRÓ PÉ DE SERRA
QUE DANÇAMOS PRA EMPENAR
E NO MEIO DO SALÃO
A POEIRA VAI VOAR
FAZENDO MUITO MARMANJO
FICAR COM A CARA PRO AR.

Cicero Manoel

FORRÓ NASCEU NO NORDESTE
NOSSO PEDAÇO DE CHÃO
E FOI IMORTALIZADO
POR NOSSO REI DO BAIÃO
O GRANDE LUÍZ GONZAGA
DE EXU LÁ DO SERTÃO.

Rejane César

O NOSSO REI DO BAIÃO
LHE DIGO BEM NESTA HORA
AQUI POR ONDE PASSEI
NUNCA OUVI OUTRA HISTÓRIA
ELE É O MELHOR DO MUNDO
ONTEM, HOJE E AGORA!

Cicero Manoel

REJANE MINHA AMIGA
NUNCA A VI PESSOALMENTE,
QUERO UM DIA CONHECÊ-LA
SOLTAR OS VERSOS DA MENTE
E DECLAMAROS FELIZES
ESSES VERSINHOS DA GENTE.

Rejane César

NO PROGRAMA DO HUMBERTO
VAMOS OS VERSOS BOTAR
E COM CERTEZA UM DIA
NÓS VAMOS NOS ENCONTRAR
E TODOS ESSES ESCRITOS
RECITAREMOS NO AR.

Cicero Manoel
Rejane César
24 de Setembro de 2013
Alagoas-Brasil

domingo, 3 de novembro de 2013

O GAROTINHO DA PRAÇA


CERTA MANHÃ LÁ NA PRAÇA
EU ESTAVA BEM SENTADO,
QUANDO CHEGOU UM GAROTO
E SENTOU-SE DO MEU LADO,
QUANDO OLHEI ESSE GAROTO
CONFESSO FIQUEI CHOCADO.

DE CABELOS ASSANHADOS
SÓ USANDO UM CHAPÉUZINHO,
PÉS DISCALSOS NO CHÃO FRIO,
O DIA ESTAVA CEDINHO,
EU FIQUEI OBSERVANDO
O PEQUENO GAROTINHO.

DE REPENTE ELE ME OLHOU
E ME ESTENDEU A MÃO,
PEDIU-ME UMA MOEDA
NAQUELA OCASIÃO,
TIVE DÓ DO GAROTINHO,
APERTOU MEU CORAÇÃO.

PERGUNTEI-LHE POR SEUS PAIS?
E ELE ME RESPONDEU:
- EU NUNCA VI O MEU PAI
ELE NUNCA APARECEU...
PERGUNTEI-LHE: - E SUA MÃE?
RESPONDEU-ME: - ELA MORREU.

A LEMBRANÇA QUE TENHO DELA
É DELA EM UM CAIXÃO,
PERGUNTEI-LHE SE ESTUDAVA
ELE OLHOU-ME E DISSE: - NÃO...
A MINHA MÃE QUE ME CRIA
DIZ QUE ESTUDO É DO CÃO.

SEU MOÇO ELA BATE EM MIM,
POIS EU TENHO MEDO DELA,
NÃO LEMBRO DE MINHA MÃE
SÓ SEI QUE ELA ERA BELA,
MINHA MÃE TÁ LÁ NO CÉU
MOÇO EU QUERIA TER ELA!

ASSIM QUE EL DISSE ISSO
AQUILO ME SACIDIU,
NÃO CONTIVE A EMOÇÃO
QUE MEU CORAÇÃO SENTIU,
UMA LÁGRIMA NA HORA
NA MINHA FACE CAIU.

EU PERGUNTEI-LHE ENTÃO
QUAL ERA A SUA IDADE.
ELE MOSTROU-ME OITO DEDOS
COM MUITA IGENUIDADE
E DISSE QUE RESIDIA
LÁ NA RUA DA SAUDADE.

NESSE MOMENTO O GAROTO
TORNOU A ME PERGUNTAR:
- VOCÊ TEM UMA MOEDA
AÍ PRA VOCÊ ME DAR?
EU LHE FALEI: - TENHO SIM!
E NO BOLSO FUI PEGAR.

ENTREGUEI-LHE UMAS MOEDAS
E ELE SIAU CORRENDO,
ELE ENTRANDO EM UMA RUA
LÁ DA PRAÇA FIQUEI VENDO,
NÃO SEI NESSA HORA
ONDE ELE ESTÁ VIVENDO.

O GAROTINHO SE FOI
E ME DEIXOU COMOVIDO,
NA PRAÇA FIQUEI NAS NUVENS
PENSANDO NO OCORRIDO
E PEDI PARA DEUS NUNCA
DEIXA-LO DESPROTEGIDO.

AQUELE POBRE GAROTO
TÃO ÓRFÃO, TÃO INFELIZ,
MALTRATADO PELO MUNDO
SERÁ QUE SERÁ FELIZ?
EXISTEM MUITOS DAQUELE
NAS RUAS DESTE PAÍS.

CICERO MANOEL
SANTANA DO MUNDAÚ – AL