(Autor: Cicero Manoel)
Com
caneta e papel
Sentado
numa cadeira,
Vou
contar neste cordel
Uma
história verdadeira
Terminada
em tragédia
Destroços
e bagaceira.
Dia
14 de Junho
De
2010 então,
Santana
do Mundaú
Com
sua população
Completou
50 anos
De
sua emancipação.
Houve
uma festa bonita
Feita
pra comemorar,
Banda
Gatinha Manhosa
Fez
a cidade dançar,
Mas
deixa que o pior
Estava
por esperar.
Dia
18 de Junho
Por
volta da madrugada
No
Vale do Mundaú
Começou
a chuvarada
Por
estradas e barrancos
Descia
a enxurrada.
O
dia amanheceu chovendo,
A
chuva continuou,
Naquela
manhã de Sexta
Choveu
e não estiou
Choveu
o resto da tarde
E
a chuva não parou.
O
tempo só estiou
Já
na outra madrugada,
Quando
o Sábado raiou
Eu
peguei uma estrada
E
fui olhar os estragos
De
toda a chuvarada.
O
estrago que causou
Agora
vou relatar:
O
estrago foi enorme,
Meu
Deus foi de assombrar!
O
que a chuva causou
Não
dava pra acreditar.
A
chuva encheu os riachos
Que
ligeiro transbordaram,
Acabou
com as estradas
Grandes
crateras ficaram,
Com
a erosão da água
As
barreiras arriaram.
Nosso
Rio Mundaú
Botou
uma grande enchente,
Desceu
lá de Pernambuco
Assombrando
toda gente,
No
estado de Alagoas
Ela
chegou de repente.
Lá
dentro de Mundaú
À
tarde a cheia chegou,
A
água tomou as ruas,
A
cidade inundou,
Só
quem morava nos altos
Foi
quem dela escapou.
A
água entrou nas casas,
O
povo chegou correr,
Foi
pros lugares bem altos
Para
a vida não perder,
A
água cobriu as casas,
Móveis
chegaram descer.
Foi-se
a Rua da Cacimba
E
a Rua da Baixinha,
A
Farmácia Santo Antônio
Caiu
com o prédio que tinha
E
no Mercadinho Esquina
Desceu
tudo que continha.
Foi
triste o que aconteceu,
O
Mercado Econômico
Do
chão desapareceu
E
a calçada da igreja
A
cheia ainda lambeu.
Na
Rua Pereira Maia
Nas
casas a água entrou,
A
Cohab da cidade
Quase
toda se acabou
E
o prédio dos Correios
Somente
o lugar ficou.
Foi-se
o Mercado de Carne
Também
o de cereais,
Foi-se
o Posto de saúde
Muitas
casas principais
Desceu
a biblioteca
Com
livros especiais.
O
prefeito Elói da Silva
Da
cheia não escapou,
Só
com a roupa do couro
Nas
ruas ele ficou
E
seu casarão do sítio
Somente
o lugar restou.
Na
manhã do outro dia,
Pelas
ruas da cidade
Foi
uma enorme agonia
Centenas
de Mundauenses
Ficaram
sem moradia.
Muitos
ficaram sem tetos,
Sem
lugar para morar,
Na
Escola Monsenhor Clóvis
Muitos
foram se arranchar
Padre
Nilton na igreja
Muitos
chegou abrigar.
A
cidade destruiu-se
Tudo
ficou arrasado,
Bem
na cabeça da ponte
Ficou
um rombo danado,
Nas
ruas ficou crateras
Com
lama pra todo lado.
Muita
gente perdeu tudo
Mas
conseguiu escapar,
Só
com a roupa do couro
Muitos
chegaram ficar,
Vendo
seus tetos caídos
Sem
podê-los levantar.
No
meio daquela enchente
Muitas
pessoas ficaram,
Em
seus primeiros andares
Onde
então se abrigaram
Sentiram
o cheiro da morte
Por
milagre escaparam.
Cercados
pela enchente
Que
lá de cima descia,
Só
Deus para socorrê-los
Foi
horror naquele dia
Se
os seus prédios caíssem
Todo
mundo morreria.
Mas
graças a nosso Deus
Muita
gente não morreu,
Na
cidade só um homem
Com
o seu prédio desceu
Ficou
desaparecido
Com
certeza faleceu.
Até
Seu Ciço da Ponte
Com
a família correu,
A
sua casa inundou
E
por pouco não cedeu,
Na
barreira de piçarro
A
água ainda bateu.
Foi
essa a maior enchente
Que
o Rio Mundaú botou,
A
famosa Ponte Nova
Nessa
enchente arriou
Caiu
quase por inteiro
Mas
um pedaço ficou.
Pra
ver a ponte caída
Muita
gente foi olhar,
O
pessoal ficou preso
Sem
ter como atravessar
O
povo de vários sítios
Ficou
sem poder passar.
No
outro lado da pista
Ninguém
podia chegar,
Só
chegava lá pista
Quem
conseguisse nadar
Mas
logo deram um jeito
Que
deu pra remediar.
Lá
no pedaço da ponte
Que
ficou bem atrepado,
Coloram
uma escada
Do
chão pro taco quebrado
Com
isso o povo subiu
Pra
chegar no outro lado.
Já
que a escada era o jeito
Pra
atravessar o rio,
Subia
gente com medo
Tremendo
com calafrio,
Subia
moça, menino,
Mulher
vovô e titio.
Por
esse tempo Alagoas
Foi
o centro do Brasil,
Pra
ajudar Alagoas
Muita
gente se uniu,
E
até o presidente Lula
Pra
Alagoas seguiu.
Toda
imprensa do Brasil
Veio
a nossa região,
Filmar
todo o sofrimento
Da
nossa população
Fomos
a grande notícia
Do
rádio e televisão.
Concluo aqui os meus
versos
Iniciando uma
prece
Cicero Manoel
termina
Esse cordel e
agradece
Rogando a Nosso
Senhor
O Deus que me
fortalece.
(Sítio Ilha Grande / Santana do Mundaú –
AL / 24 de junho de 2010)