segunda-feira, 29 de julho de 2019

ADEUS À MARIQUINHA




Maria José de Oliveira
* 1960
+ 2019


Alagoas se despede
Nesse início de semana,
Da famosa Mariquinha,
Cordelista alagoana,
Que parte pra outra vida,
Porque a morte é insana.

Morre Maria José
De sobrenome Oliveira,
Uma grande alagoana,
No cordel uma guerreira,
Poetisa popular
Glosadora de primeira.

Mariquinha dedicou
Sua vida ao cordel,
Na terra ela colocou
Suas rimas no papel
E agora foi chamada
Pra fazer cordel no céu.

Seus amigos cordelistas
Lamentam a sua morte.
Daqui eu peço a Deus
Que a família conforte.
Mariquinha não morreu
Seu nome está vivo e forte.

Parte uma cordelista
Que escrevia o que via,
Que lutou pelo cordel
Toda noite e todo dia
E vai deixando o seu nome
No mundo da poesia.

Lutemos pelo cordel
Como fez nossa amiguinha.
Vamos levar o cordel
Para toda criancinha,
Pode ser que dessa forma
Nasça outra Mariquinha.

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Cícero Manoel
29 de julho de 2019

terça-feira, 23 de julho de 2019

SÚPLICA A SÃO PEDRO


                                                Imagem: José Thales Pantaleão Ferreira


Oh, São Pedro, mande chuva,
Mas tenha pena da gente!
São Pedro eu morro de medo
De passar por outra enchente.
Mande chuva meu santinho
Mas olhe o povo carente.

Moro na beira do rio
No meu Mundaú querido,
Numa pequena casinha
Com meu filho e meu marido.
Na beirada desse rio
Já tenho muito sofrido.

No ano dois mil e dez
Eu perdi tudo que eu tinha.
Ficou só uma parede
Da minha pobre casinha
Naquela terrível enchente
Que lavou minha terrinha.

Depois daquela enchente
Apanhei muito na cara.
Alimentei esperanças
De ir morar na Jussara
Mas não ganhei uma casa,
Fui brigar, corri na vara.

Trabalhei como uma louca
Passei por cima da brasa.
Na esperança divina
Eu lutei e criei asa
E na beirada do rio
Reconstruí minha casa.

Graças a Nossa Senhora
Eu consegui me erguer,
E nessa beira do rio
Aqui estou a viver
Mas quando chega o inverno
Começa meu padecer.

Nas noites muito chuvosas
Passo sono, passo frio,
Com medo, preocupada,
Olhando a água do rio.
Quando vejo o rio enchendo
Começo a ter calafrio.

A injustiça do homem
Me obrigou a voltar
Para a beira desse rio
Onde vivo meu penar
Com medo daquelas águas
Que inundaram meu lar.

É por isso meu São Pedro
Que eu peço ao senhor,
Mande chuva para a gente
Mas de nós tenha clamor,
Não leve embora o sossego
Do seu povo sofredor.


Cícero Manoel
Santana do Mundaú-AL
22 de julho de 2019


segunda-feira, 22 de julho de 2019

INVERNO NO MUNDAÚ

(Imagem: Lúcia Lourenço)


Eita, inverno bonito
No Vale do Mundaú!
É tanta chuva do céu...
Já vejo até gogo-açu,
O rio já inundou
A touceira de bambu.

Pense num inverno macho!
Chove todo santo dia.
Pasto verde, milho verde,
Tarde escura, manhã fria,
Vaqueiro todo molhado
Aboiando a vacaria.

Isso é que é inverno
Chuva fina, chuva grossa,
Roceiro com sua foice
Roçando mato na roça,
Mulher aparando água
Na biqueira da palhoça.

Só no inverno se vê
Caminhão no atoleiro,
Pinto piando com frio,
Lodo verde no terreiro,
Família despinicando
Feijão verde o dia inteiro.

É lindo ver no inverno
A água bem lameada,
O riacho transbordando,
A vargem toda inundada,
As flores desabrochando
E a terra encharcada.

É no inverno que a moça
Se amiga com o namorado,
Que a mulher fica prenha
Na quentura do amado,
Que o velho treme encolhido
Lembrando do seu passado.

Aqui se vê no inverno,
Burro de carga pesada
Descendo e subindo serra
Na estrada esburacada
Com o tropeiro atrás
Entoando uma toada.

Viva o inverno meu Deus!
De chuva o homem carece.
Pra o inverno ser bom
O sertanejo faz prece.
Se não existir inverno
O homem sofre e padece.


Cícero Manoel
Santana do Mundaú-AL
22 de julho de 2019

terça-feira, 16 de julho de 2019

CHOVE CHUVA EM MINHA TERRA

(Imagem: Lúcia Lourenço)


Chove chuva nessa tarde,
Venha molhar meu torrão.
Deixe a terra bem molhada
Caia nessa região 
Pra eu plantar minha roça 
De milho, fava e feijão.

Chove chuva nessa terra
Deixe o vale inundado.
Deixe o Mundaú bem cheio
Mate a sede do coitado
Que anda de bucho seco
Caminhando fatigado.

Chove chuva no meu vale,
Traga o inverno pra cá .
Encha meu lindo riacho
Pra eu pescar jundiá
E pegar pitu nas locas
Com meu primo Sabiá.

Chove chuva nas grugueias
Onde eu vivo meus dias.
Pra que eu possa ouvir os sapos
Com as suas cantorias
Na beirada das lagoas
Fazendo suas orgias.

Chove chuva em meu casebre,
Faça a biqueira cantar.
Traga aquela enxurrada
Que faz barreira arriar
Traga aquela friagem
Do corpo se arrepiar.

Chove chuva nas montanhas
Dessa terra tão escura.
Molhe bem as nossas plantas,
Leve embora a quentura,
Traga muita esperança,
Alegria e fartura!


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Cícero Manoel / Santana do Mundaú-AL /15 de julho de 2019