quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A CENA DA CACIMBA

 (Cícero Manoel)

 

Eu ainda era um donzelo,
Um sujeitinho magrelo 
Desses da cara lambida. 
Quando em uma tarde plena, 
Eu vi a mais linda cena 
De toda a minha vida.
 
Eu era um adolescente 
De quinze anos, somente, 
Vivia como um qualquer. 
Com meu jeito ameninado, 
Nunca tinha reparado 
Direito em uma mulher. 
 
Mas para mim a donzela 
Mais formosa e mais bela 
Lá no nosso interior, 
Era a prima Açucena, 
Uma bonita morena 
Do sorriso encantador. 
 
Foi quando em nossa casinha,
Faltou água na cozinha 
E mamãe veio ao terreiro. 
Me viu e foi me dizendo: 
-- Vá na cacimba correndo, 
E traga água ligeiro! 
 
Botei um balde de lado 
E a água apressado 
Na cacimba fui buscar. 
Quando fui chegando nela, 
Eu vi a coisa mais bela 
Que eu já pude avistar. 
 
De relance eu vi a cena: 
Minha prima Açucena 
Tomando banho despida. 
Essa cena preciosa, 
Foi ela, a mais prazerosa, 
Que eu já assisti na vida. 
 
Numa moita me escondi, 
Dali escondido eu vi 
Ela molhando os cabelos. 
Em seu corpo as mãos passando, 
Abrindo a boca e fechando 
Acariciando os pêlos. 
 
Observei direitinho 
As curvas do seu corpinho 
Formoso e bem desenhado. 
Enquanto a espionei, 
De boca aberta fiquei,
No meu canto, deslumbrado. 
 
Meu balde caiu da mão, 
Ela percebeu, então, 
Que tinha alguém lhe vendo.
Apressada se vestiu 
E assustada saiu 
Pra sua casa correndo.
 
Levei a água pra casa 
E quente como uma brasa 
Não parava de pensar, 
No corpinho priminha, 
E na cena que eu tinha 
Acabado de avistar. 
 
E depois daquele dia 
Na cacimba eu sempre ia 
Pra ver se eu a via nua. 
Mas não vi mais a danada, 
Uma tarde a desgraçada 
Fugiu com um cabra da rua. 
 
Hoje já em alta idade,
Eu tive a felicidade 
De ver muita cena bela. 
Mas garanto a quem me incita, 
Que a coisa mais bonita 
Que eu já vi foi aquela. 
 
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Jussara – Santana do Mundaú – AL 
11 de fevereiro de 2021