sábado, 2 de agosto de 2014

O RÁDIO DE PILHA




















Hoje à tarde eu montei
No meu bonito burrão
E fui parar sem querer
Lá no Sítio Riachão
Bem mais preciso na casa
Do meu compadre Azulão.

Lá eu desmontei do burro
E cheguei me aproximar,
Quando apertei a sua mão
Disse ele: vamos sentar,
Foi muito bom o senhor
Vir aqui me visitar.

Compadre sente contente
Fique aí nessa cadeira,
Que eu vou buscar meu rádio
Lá dentro na Partilheira,
Pra nós assistir o jogo
Da seleção brasileira.

Eu disse: assistir o que?
Ele chegou explicar:
Compadre a copa do mundo
Já começou pra lascar,
E a nossa seleção
Nesse instante vai jogar!

Eu disse: Apois pegue o rádio
Traga pra cá o danado,
Vamos ouvir esse jogo,
Vá busca-lo apressado,
Mas compadre vou torcer
Pro time do outro lado!

Aí compadre  Azulão
Me disse meio cabreiro:
- Oxe compadre o que é isso?
E tu num é brasileiro?
Aí lhe dei a resposta
Falando muito ligeiro.

- Há compadre não tem graça
Pelo mesmo nós torcer,
Aposto como o outro
Desse Brasil vai vencer,
Ele me disse: vai nada...
Mas isso nós vamos ver!

Ele então trouxe o rádio
Naquela ocasião,
E um cabra começou
Fazer uma narração
Narrando aquela partida
Numa carreira do cão.

Compadre se levantou
E veja o que foi ver,
Trouxe um litro de cachaça
Pra eu com ele beber,
Pegamos ouvir jogo
E com a pinga se entender.

Compadre então revelou-me
Um sonho que tinha então,
Disse: - compadre o meu sonho
É ter uma televisão,
Preu ver a Copa do Mundo
E a minha seleção.

Aí eu disse esse sonho
O senhor vai realizar,
Um dia os homens aqui
Energia vão botar
E uma televisão
Então nós vamos comprar.

O jogo então prosseguiu
E nada do gol sair,
Compadre foi se enfezando
Eu comecei a sorrir
A cachaça em seu bucho
Sempre chegava cair.

Quando o primeiro tempo
Foi então paralisado
Meu compadre azulão
Já Estava embriagado,
O jogo zero a zero
Deixava ele enfezado.

E quando o segundo tempo
Do jogo se iniciou,
Compadre tomou mais uma
E uma pra mim botou,
Aí o rádio de pilha
Naquela hora parou.

As pilhas descarregaram
E meu compadre enraivado
Querendo ouvir o jogo
Pra saber o resultado
Pegou dar murro no rádio
Mas tudo estava acabado.

Aí eu disse compadre
Sua seleção perdeu,
Ele pegou um facão
E apontou para eu,
Amigo naquela hora
Meu corpo estremeceu.

Segurando o facão
E bastante enraivado,
Ele gritou: Vida triste!
Rádio amaldiçoado!
Partiu o rádio no meio
Foi banda pra todo lado.

O fim do jogo não sei
O rádio não mais falou,
Compadre muito nervoso
Em sua casa ficou
Peguei o burro montei
Porque besta eu não sou.

E no meio do caminho
Eu disse em ocasião:
“Talvez eu e meu compadre
Um dia nesse sertão
Possamos assistir a copa
Em uma televisão.

E quando isso acontecer
Vai ser só felicidade,
Mas isso só quando os homens
Que vivem lá na cidade,
Trouxerem pra eu ele
A tal eletricidade.

CICERO MANOEL
SANTANA DO MUNDAÚ – AL
17 DE JUNHO DE 2014