quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O NAMORO COM ROSIETE (A PRIMEIRA NAMORADA)



(Autor: Cícero Manoel)

Quando eu fiquei de maior
Nas bandas do meu sertão,
Um dia eu fui um forró
Na casa de Conceição,
Lá eu vi uma donzela
Que era a moça mais bela
De toda a região.

Seu nome era Rosiete,
Bonita igual uma flor,
Filha de Dona Carminha
Com seu Mané Curador,
Um velho muito valente
Que curava toda a gente
Daquele interior.

Ali naquele forró
Pra moça peguei olhar,
Ela me viu e sorriu,
Comecei lhe paquerar.
Tomei uma pinga quente,
Cheguei nela de repente
E falei: — Vamos dançar?

Ela aceitou a dança,
Eu me abufelei com ela.
Ela disse: — Quem é tu?
Eu disse nos olhos dela:
— Alguém que sonha acordado
E que está encantado
Por você mocinha bela.

Dancei com a linda moça
Um xote bem agarrado,
Aí falei: — Me responda,
Você já tem namorado?
Ela disse: — Ainda não.
Só que o meu coração
Tá procurando um amado.

Eu sorri e lhe falei:
— Pois escute o que lhe digo,
Pra ter o seu coração
Enfrento qualquer perigo!
Eu mato pra te ganhar,
Me atrevo a perguntar:
Tu quer namorar comigo?

Ela sorriu no meu ombro
E chegou a me falar:
— Tu quer saber a verdade?
Aceito te namorar!
Pra mim será um prazer,
Mais eu não se te dizer,
Se meu pai vai aceitar!

Aí lhe acochei mais forte
E falei no seu ouvido:
— Então vamos começar
A namorar escondido,
Com seu pai tu vai falar
Aí se ele aceitar
Fica tudo resolvido!

Ela aceitou o namoro,
Aí, dei um beijo nela.
O forró se acabou
E eu me despedi dela.
Na manhã do outro dia
Soube que seu pai queria
Me interrogar com ela.

Bastante longe de mim
A linda moça morava,
Da minha casa pra dela
Mais de uma hora gastava
No meu cavalo alazão
Que naquela região
Encantava e invejava.

Aí selei meu cavalo
E fui pra lá apressado,
Em sua casa seu pai
Me recebeu animado.
Sentei num canto tremendo
E o velho foi dizendo
Numa cadeira sentado:

— Olhe rapaz não empato,
Pode namorar com ela,
Mas vai namorar aqui
Pegando só na mão dela,
Não quero agarramento,
Vou tá a todo momento
Vendo vocês da janela!

Na casa de Rosiete
Todo domingo eu chegava,
Eu me sentava num banco
Ela também se sentava,
Nós ficava conversando
E o velho nos vigiando,
Olhando a gente ficava.

Uma tarde de domingo
Eu cheguei lá com prazer
Sentado ao lado da moça
Fui até anoitecer
Quando eu pensei ir embora
De repente nessa hora
Forte começou chover.

Naquele início de noite
No céu foi grande a zoada,
O relâmpago desceu
Foi bem forte a trovoada,
Por ali eu fui ficando
Com pouco eu tava jantando
Na casa da namorada.

Dez horas me disse o velho:
— Tá forte a chuva lá fora,
Rapaz durma por aqui,
Pode ficar sem demora,
E mesmo se estiar
É perigoso andar
Nessa estrada essa hora.

Uma dormida por lá
Desse modo eu aceitei
A velha trouxe uma rede,
Lá na sala eu armei,
Os velhos foram pra cama,
Levaram a minha dama,
Na rede eu me deitei.

Por volta da meia noite
Da rede cheguei pular,
Saí andando no escuro
Sem quase nada avistar
Numa secura danada
No quarto da namorada
No tato eu fui parar.

Cheguei na beira da cama
Da minha amada tão bela,
Me sentei bem de mansinho
E dei um beijinho nela,
Ela me empurrou ligeiro,
Ascendeu um candeeiro,
Não era ela, era o pai dela!

Seu Mané naquela hora
Me deu logo uma mãozada,
Que eu caí no pé da cama
Com a cara arrebentada
No quarto a velha chegou,
Rosiete se acordou,
Apareceu espantada.

Seu Mané olhou pra mim
E alto chegou dizer:
— Eu sabia muito bem
Que isso ia acontecer!’
Me dando outro bofete,
Disse: — Minha Rosiete,
Você pode esquecer!

Para saber se você
Não era um cabra safado,
Rosiete foi dormir
Nesse quarto aqui do lado,
Vim dormir na cama dela,
Você pensou que era ela,
E acabou sendo enganado!

Ali naquele momento
O namoro se acabou,
De sua casa pra fora
Seu Mané me expulsou,
Do bofete e da mãozada
Fiquei com a cara inchada,
Muito aquilo me ensinou.

Sofrendo por Rosiete
Debaixo da chuva entrei,
Logo peguei meu cavalo
Ligeiro nele montei,
Saí em outra chuvada,
E perto da minha amada,
Nunca mais eu encostei.

Sítio Ilha Grande
Santana do Mundaú-AL
6 de julho de 2014

domingo, 12 de novembro de 2017

O ENCONTRO

(Cícero Manoel) 


Eu vinha no meu cavalo
Quando avistei minha amada
Passeando na estrada
Com seus cabelos soprando
Ela estava tão bonita
Que o cavalo brequei
O meu chapéu eu tirei
E fiquei pra ela olhando.


Cada passo que eu dava
Alegrava mais meu dia
O meu coração batia
Mais e mais acelerado, 

Da sela do meu cavalo
Olhando a minha donzela
Não tirei os olhos dela
No meu cavalo parado.

Ela foi se aproximando
E eu olhando pra ela
Bem apoiado na sela 

Sorri de tanta paixão,
De repente ela me olhou
E então me conheceu
Aí mais forte bateu
O meu frágil coração.

Ela me deu um sorriso
O mais lindo que já vi
Pra ela então sorri
E então desci da sela,
Ela correu pros meus braços
Forte eu a abracei
O corpo dela apertei
E beijei a boca dela.

Naquele beijo passei
Todo amor que eu sentia,
Me abraçando ela dizia:
“Eu te amo mais que tudo!”
E eu dizia pra ela:
“Amor, te amo também!”
Ela falava: “Meu bem,
Te amo meu cabeludo!”

Lhe beijando e abraçando
Eu passei mais de uma hora
Depois ela foi embora
Com seus cabelos soprando, 

Depois peguei meu cavalo
Montei ligeiro na sela
E saí pensando nela
Na estrada galopando.

Sítio Ilha Grande, Santana do Mundaú – AL / 5 de Setembro de 2010

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

MENINA TU ÉS A ROSA MAIS LINDA DO MEU JARDIM

(Cícero Manoel)


Menina quando te vejo
Eu fico paralisado,
Fico meio atrapalhado
Te olhando com desejo.
Há tempo que eu pelejo,
Está chegando meu fim.
Eu quero você pra mim
Minha pedra preciosa.
Menina tu és a rosa
Mais linda do meu jardim.

Menina o seu olhar
Mexe com meu coração,
Eu te amo de paixão,
Em você só sei pensar.
Menina por te amar
Sofro bastante assim...
Morrendo pelo seu “sim”,
Padeço em noite chuvosa.
Menina tu és a rosa
Mais linda do meu jardim.

Para ter seu coração
Eu topo qualquer parada,
Dava até uma facada
No bucho de Lampião.
Eu enfrentava o Cão,
Ressuscitava Caim,
Fazia o estopim
Pra ter você flor cheirosa.
Menina tu és a rosa
Mais linda do meu jardim.

Menina eu sonho contigo
Toda hora e todo dia,
Só vou sentir alegria
Se você ficar comigo.
Sou seu amor, seu amigo,
A raiz do seu capim.
Menina não sou ruim,
Quero seu beijo formosa!
Menina tu és a rosa
Mais linda do meu jardim.

Eu já pensei começar
Em fazer uma casinha,
Com alpendres, pintadinha,
Para com você morar.
Mas não queres me amar...
Tu não queres bem a mim,
Isso me mata, é meu fim,
Te amo de mais dengosa!
Menina tu és a rosa
Mais linda do meu jardim.

O seu beijo eu queria
Um dia ainda sentir.
Pensando em te possuir
Padeço sem alegria.
Mas se chegasse um dia
E você dissesse assim:
“Eu te quero, vem pra mim!”
Eu te agarrava gostosa!
Menina tu és a rosa
Mais linda do meu jardim.


Sítio Ilha Grande, Santana do Mundaú-AL
22 de maio de 2012

quinta-feira, 29 de junho de 2017

O SÃO JOÃO DE ANTIGAMENTE E O SÃO JOÃO DE HOJE EM DIA






















Foto do Google




Autor: Cicero Manoel

O São João de hoje em dia
Está muito diferente.
Tá muito modificado
Esse São João do presente,
A diferença é grande
Pra o São João de antigamente.

O São João de antigamente
Era bem mais animado,
O São João de hoje em dia
Tá muito desanimado
Ninguém faz mais uma festa
Como tinha no passado.

No São João do passado
Dava prazer escutar
História de moça velha
Que queria se casar
E fazia simpatia
Pra um noivo encontrar.

Não queira me duvidar
Pois isso acontecia,
Isso hoje é matutisse
Pras moças de hoje em dia
P’ruma hoje namorar
Não precisa simpatia.

No São João antes havia
Uma coisa corriqueira,
Os rapazes e as moças
Arrodeando a fogueira
Se tomavam por compadres
Era aquela brincadeira!

Hoje é uma besteira
Pros jovens de hoje em dia
Fazer essa brincadeira
Que antigamente fazia,
Sempre mantendo o respeito
Na paz e na alegria.

O São João de hoje em dia
Não tem mais animação,
Não existe mais forró
Só existe imitação,
Assassinando o forró
De Luiz rei do baião.

Hoje o nosso São João
É aquilo empacado,
Não se vê um sanfoneiro
Não tem xote, nem xaxado,
Daquele que se dançava
Pro corpo ficar suado.

Tá muito modificado
Esse nosso São João,
Quase ninguém faz fogueira,
Ninguém solta mais balão,
Se o cabra for soltar um
Passa o São João na prisão.

Hoje o nosso São João
Está que chega dá dó,
Não se vê um palhoção
Do pé levantar o pó,
E onde tem uma, toca
Funk em vez de forró.

O São João sem forró
Vai perdendo a sua essência,
Acabou-se o matuto,
E a sua aparência
Gerou moda, gerou lucro,
Gerou até concorrência.

Tem muita incoerência
Hoje em nosso São João,
A culpa de muita coisa
É da modernização
Mas não podemos deixar
Morrer nossa tradição.

Santana do Mundaú – AL / 29 de junho de 2017