(Cícero Manoel)
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Vou embora lá pro sul
Vou deixar o meu torrão,
Já arrumei minha mala
Com pesar no coração,
Eu não queria ir embora
Mas não tenho outra opção.
Vendi a minha motinha
Ao filho de seu Luís,
Comprei a minha passagem
Com o dinheiro que eu fiz,
Vou deixar o meu Nordeste,
Vou lá pro sul do país.
Aqui na minha cidade
Não tem em que trabalhar,
Eu não aguento mais ver
Minha mulher reclamar
Dizendo: “Hoje não tem
Feijão pra eu cozinhar”.
Me dá uma dor no peito
Ver meu filho envergonhado
Sair daqui pra escola
Com o chinelo emendado
E eu sem poder comprar
Pra ele um novo calçado.
Todo dia em nossa casa
Aumenta meu padecer,
Vendo a menina chorar
Sem o leite pra beber,
Fiado pra esse pobre
Seu Zé não quer mais vender.
É muito difícil emprego
Aqui onde a gente mora,
Se aqui não tem emprego
É preciso ir buscar fora
Pra sustentar a família
Que a gente ama e adora.
Meu primo que foi embora
No início de janeiro
Disse que lá tem emprego
E ganha muito dinheiro,
Lá tem colheita de frutas
Tem trabalho o mês inteiro.
Com meu primo lá no sul
Estou indo me juntar,
Pra sustentar a família
Lá no sul vou trabalhar,
E todo mês pra mulher
Um dinheiro vou mandar.
Já me despedi dos velhos,
Mamãe me abraçou chorando,
Disse: “Deus te abençoe
Vou ficar aqui rezando”.
Papai disse: “Vá com Deus”
E ficou me acenando.
Com as lágrimas caindo
A esposa me beijou,
Meu menino soluçando
De mim se aproximou,
Disse: “Papai não vá não!”
E comigo se agarrou.
A grande falta de emprego
Me obriga a ir embora
Nunca deixei minha terra,
Não sei como é lá fora,
Vou com fé em Padim Ciço
Jesus e Nossa Senhora.
Parto pras terras do sul
Amanhã de madrugada
Com o coração sangrando
Deixo minha terra amada,
No fim do ano eu volto
Pra rever a parentada.
(Residencial, Santana do Mundaú-AL, 23 de fevereiro de 2019)
(Residencial, Santana do Mundaú-AL, 23 de fevereiro de 2019)