Moro com minha
mulher
Lá no “Sítio Mulugu”
Ontem eu combinei
com ela
De ir para mundaú
Ver a virada do ano
Mas veja só o
“angu”.
Eu calcei as minhas
botas
Vesti o meu
casacão,
Ela botou um
vestido
Branquinho igual
algodão
E ficou toda bonita
Para aquela ocasião.
Nossa filha
Rosenilda
De dezesseis de
idade,
Também se
“aprifilou” toda
Pra ir com nós pra
cidade
Três da tarde
estava pronta
Cheia de ansiedade.
Do sítio até a
cidade
É um pedaço danado,
Eu gasto quase uma
hora
Em meu burrinho
montado
Perto da hora de
irmos
Deixei o bicho
selado.
Também selei um
cavalo
Pra Rosenilda ir na
sela
E levar lá na
garupa
Minha mulher a mãe
dela
Que estava toda
bonita
Ha tempo eu vi ela
bela.
Saímos pra mais de
cinco
Lá do Sitio Mulugu
E lá pelas seis da
noite
Chegamos em mundaú
E os animais
amarramos
Lá num tronco de
caju.
Depois disso nós
saímos
Na cidade a
passear,
Certo momento na
praça
Fomos então se
sentar
E ficamos esperando
A missa então
começar.
Depois de alguns
minutos
Naquele banco
sentado
Me deu logo de
repente
Um sono amaldiçoado
A mulher então me
disse:
- eu vou andar um
bocado!
Rosenilda então
disse:
Eu também vou
passear.
Eu disse assim:
então vão
Que aqui eu vou
ficar
Mulher aqui nesse
banco
Um pouquinho vou
cochilar.
As duas então se foram
E lá eu fiquei
sentado
Depois me deitei no
banco
Peguei no sono
apressado
Quando me acordei a
missa
Tinha ha tempo
começado.
A praça estava
vazia
Naquela ocasião
Quando olhei pra
igreja
Estava uma multidão
Me levantei e pra
lá
Logo tomei direção.
Quando cheguei na
igreja
Eu não consegui
entrar,
Não cabia mais
ninguém
Lá não entrava nem
ar
da filha e da
mulher
então cheguei me
lembrar.
As duas naquela
hora
Eu comecei procurar
Passei mais de meia
hora
Nenhuma pude
avistar
Na igreja eu tentei
Mas não pude “emburacar.”
Lá tinha gente de
mais
Aí na hora eu
pensei:
“Com certeza estão
lá dentro
Não sei porque
madornei...
Elas vão sair na
porta...”
Aí na porta fiquei.
Logo a missa
terminou
E veja a situação,
Lá da igreja saiu
Um grande multidão
E eu fui quase
pisado
Naquela ocasião.
Pros quatro cantos
eu olhava
Pra ver se a mulher
eu via
Na varanda da
calçada
Quase um gordo me
espremia
Olhei pra praça e
na hora
Tive uma grande
agonia.
Subiu-me um grande
calor
Deu-me um nervoso
danado,
Eu vi num banco da
praça
Um maloqueiro
sentado
Acochando Rosenilda
Num amasso
desgraçado.
Falei sozinho:
infeliz,
Vou dar-lhe um
cacete agora!
A calçada da igreja
Fui descer naquela
hora
Quando o pé ficou
no ar
Gritou alto uma
senhora:
-Olha os fogos lá
no céu
Feliz ano novo
gente!
Inventei de olhar
pro céu
Foi tudo tão de
repente
Não deu pra voltar
pra trás
Eu fui com tudo pra
frente.
Danei a bunda no
chão
Caí com tudo
embolando
Desci os degraus
ligeiro
Caí embaixo rolando
No céu naquele
momento
Vi os fogos estourando.
Naquela queda uma
bota
Não sei aonde
parou,
Quebrei o braço
direito
A coluna deslocou
Fiquei com um dente
mole
E um dedo envergou.
Gritaram: - o homem
caiu!
Meu deus ajude o
coitado!
Aí eu fechei os
olhos
Por minutos
desmaiado
Acordei com Rosenilda
E a mulher do meu
lado.
Estava numa
ambulância
Indo para um
hospital.
- Feliz ano novo
pai!
Tudo vai ficar
legal.
Falei: - se eu
escapar
Eu vou lhe matar no
pau!
Da queda que eu
levei
Você é grande
culpada
Só inventei de
descer
Aquela grande
calçada
Depois de lhe ver
cum macho
Sendo por ele
agarrada!
Assim que eu disse
isso
A mulher
interrompeu,
Disse deixe de
besteira
Nossa filha já
cresceu
Tá na idade de
namoro
Ainda não percebeu?
Aí eu lhe
perguntei:
Aonde você entrou
Bastante lhe procurei
Você não me
procurou
Disse ela: - eu
tava na missa
Seu sono você
matou?
Aí não falei mais
nada
Aguentei tudo
calado
Viemos pra o
hospital
Aqui estou
internado
Começando o Ano
Novo
Numa cama
arrebentado.
Tomara que a mulher
Estava a missa assistindo
Porque se ela
estiver
Pra esse cabra
mentindo
Juro vou fazer
chorar
Quem ontem estava
sorrindo.
Se eu descobrir que
ela
Na missa não se
encontrava
E que estava
fazendo
O que a filha
estava
Mato essa
desgraçada
Se acaso ela me
chifrava.
1 de janeiro de
2014