quarta-feira, 28 de março de 2012

O RAPAZ QUE COMEU BOSTA PRA SABER QUE GOSTO TINHA




























(Autor: Cícero Manoel)

Eu fui criado na roça
Em um bonito sertão,
E perto da minha casa
Lá na minha região,
Morava um certo rapaz
Chamado, Zeca Fofão.

Zeca Fofão era filho
Da velha, Dona Dorinha,
A mente do empestado
Estava quase doidinha
De tanto ele imaginar
O gosto que bosta tinha.

 Ele ficava pensando:
“Toda bosta é fedorenta,
Bosta não deve ser bom,
Toda bosta é nojenta,
Tem bosta que fede tanto
Que eu tranco até a venta”.

Zeca Fofão todo dia
Ficava num vai e vem
Se perguntando: “Será
Que bosta faz mal ou bem?
Tem bosta feia e bonita,
Mas que gosto bosta tem?”

Ele dizia: “Tem bosta
Que causa admiração,
Tem cada tipo de bosta
Que espanta até Cão,
Mas tem bosta tão bonita
Que parece até pirão!”

Nessa agonia danada
Ele chegou a ficar,
Sua curiosidade
Ia acabar lhe matar,
Aí, uma decisão,
Um dia chegou tomar.

Certa manhã caladinho
Sem dizer nada a ninguém
Disse ele : “Hoje eu como bosta
Pra saber que gosto tem,
E vou comer é a minha,
Que é linda pra mais de cem!

Minha bosta é de primeira,
Minha bosta tem valor,
É tão linda que a beleza
Espanta até o fedor,
Pois eu vou provar a bicha
Mais tarde no cagador.”

O cagador do danado
Dentro dos matos ficava,
Num tronco de bananeira
Onde ele se apoiava,
Todo dia nesse canto
O miserável cagava.

Um dia pela manhã
Ele comeu um mamão
E uma banda de abóbora
Cozinhada no feijão
Pra cagar amarelinho
Uma bonita porção.

Quando foi no fim da tarde
Ficou ele a esperar,
O mamão fazer efeito
Para ele ir cagar
Quando a vontade apertou
Ele disse: “Eu vou provar!”

Correndo pra sua moita
Zeca Fofão disparou,
Na moita desceu a sunga,
Ligeiro se acocorou,
Impando que só o Cão
Uma tuia ele cagou.

Quando acabou a cagada
Alevantou o calção,
Aí falou: “É agora!
Vamos lá Zeca Fofão!”.
Deu uma olhada na bosta
E nela atolou a mão.

Danou o dedo na bosta
E apanhou um bocado,
Quando ele sentiu o cheiro
Disse: “O fedor tá danado,
Mas eu vou provar a bicha,
Pra saber o resultado!”

Aí com a outra mão
A venta ele trancou,
Para provar sua merda
A boca ele arreganhou
E a dedada de bosta
Na boca ele botou.

Quando ele sentiu o gosto
Naquela ocasião
Na mesma hora ele fez
Uma careta do Cão
E numa grande agonia
Cuspiu a bosta no chão

Lhe deu uma agonia,
Botou para vomitar,
Cuma catinga danada
Chegou então a falar:
“Nunca mais na minha vida,
Bosta, eu quero provar!”

Ainda continuou:
“Ai meu Deus que gosto ruim!
Não pensei que minha bosta
Fosse tão horrível assim,
Ai meu Deus, e se essa bosta
Fizer algum mal a mim?”

Aí todo atrapalhado
Para trás ele vastou,
Nessa hora o desastre
Do infeliz inteirou,
Na sua tuia de bosta
O seu pé ele enfiou.

Sua alpercata na bosta
Ficou toda apregada,
Ele então puxou o pé
Com uma raiva danada
E disse: “Na minha vida
Foi essa a pior cagada.”

A bosta na alpercata
Lá no chão ele alimpou,
Correu ligeiro pra casa
Com água a boca lavou,
Mas ela por muitos dias
Fedendo a bosta ficou.

Zeca matou desse jeito
Sua curiosidade,
De comer bosta outra vez
Nunca mais sentiu vontade,
Um dia deixou a roça
E danou-se pra cidade.

Zeca hoje odeia bosta,
Dela não quer nem saber,
Hoje quando vai cagar
A bosta ele nem quer ver
Hoje o infeliz só caga
Porque precisa viver.

E se você quer saber
O gosto que bosta tem,
Quando você for cagar
Prove um pouquinho também,
Garanto você não morre,
Bosta não mata ninguém.

FIM


3 comentários:

  1. Aaah, que nojo... Como eu vim parar aqui? Droga! Não acredito que li isso. Mas pobre é assim mesmo né, gente da roça!

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  2. Maravilhoso! Cultural! Cordel é cultura, cordel é tudo de bom!

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