segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A MOCINHA DA CIDADE






Aqui nesse interior
Uma encantadora flor
Um dia pareceu;
Domou o meu coração
E deixou a ilusão
Rasgando esse peito meu.

Depois que ela chegou
Só oito dias ficou
Entre o nosso conviver;
Bastei pegar sua mão
Pra sentir no coração
Um imenso amor nascer.

Não esqueço o seu olhar,
Sua voz, o seu andar,
Meu Deus que saudade dela!
Relembro aqui sorrindo
Aquele beijo tão lindo
Que dei uma tarde nela.

Sonhei tê-la do meu lado,
Sonhei com ela casado,
Mas me afoguei em seu mar;
Caí num canto chorando
Quando a vi embarcando
De volta pro seu lugar.

Ela é moça da cidade
É cheia de vaidade,
Não é moça do sertão;
Nunca que ia querer
A sua vida viver
Nos braços de um peão.

Voltou pra sua cidade
Deixando a dor da saudade
Em meu peito sofredor;
Aqui choro a falta dela,
Nunca uma moça daquela
Ia querer meu amor!

Cicero Manoel
Sítio Ilha Grande
Santana do Mundaú – AL
1 agosto de 2015



FOTO: Ângela Melo

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

TAMBÉM SOU CONHECEDOR




























Não sei ler, nem escrever
Sou um pobre agricultor,
Mas eu vou mostrar pro mestre
E também para o doutor,
Que aqui na minha roça
Também sou conhecedor.

Aqui lido com ciências
De alta categoria,
Eu vou mostrá-las agora
Pra você que não sabia,
E eu vivo elas na prática,
Não gosto de teoria.

Não soletro uma palavra,
Não sei juntar as vogais,
Mas por aqui sei o nome
De todos os vegetais,
De toda árvore nativa
E de todo os animais.

Conheço todas as aves
Que vivem na natureza,
Conheço todas as plantas
Aqui dessa natureza,
E também todos os peixes
Dessa minha redondeza.

Conheço a terra boa
Para fazer meu roçado,
Planto nas fases da lua
Pra dar o fruto vingado
Sei medir terra e cubar
Sem aparelho avançado.

Sei calcular o valor
Quando algo vou vender,
Sei fazer todas as contas
De quanto vou receber,
De quanto eu vou lucrar
E de quanto vou perder.

Das artes que eu conheço
A música é singular
Brincando de aprender música
Viola aprendi tocar
Deu ritmo e melodia
O tom vou logo buscar.

A arte da poesia
E todo o seu conceito,
Aprendi fazendo verso
Com a viola no peito,
Rima, métrica, estrofe,
Eu sei de tudo perfeito.

Aprendi Literatura,
Em Folheto de cordel,
Sei as histórias da bíblia,
As divindades do céu,
E as mentiras que existe
Por trás do Papai Noel.

Sei lidar com a Medicina,
Sei curar dores mortais,
Para isso faço uso
De plantas medicinais,
Que encontro na natureza
Por dentro dos matagais.

Não sei de Agronomia,
Mas sei cuidar do roçado,
Conheço a melhor semente
Pra dar um bom resultado,
Sei o ano bom de safra
E o ano azarado.

Não toco fogo no mato
Preservo a plantação,
Deus me livre botar lixo
Dentro do meu riachão,
Preservo o ar que eu respiro,
Não faço poluição.

Como meus pais me educaram
Meu filhos eu eduquei,
Tudo que eu aprendi
Pra eles já ensinei,
Nunca me desrespeitaram
Nem eles desrespeitei.

Eu também sei ensinar
Meu caro mestre e amigo,
Quer assistir minhas aulas?
Se quiser moço, lhe digo:
Minha escola é minha roça,
Vem cá estudar comigo!


(Cicero Manoel Cordelista / Santana do Mundaú – AL / 27 de Março de 2015)