Não
sei ler, nem escrever
Sou
um pobre agricultor,
Mas
eu vou mostrar pro mestre
E
também para o doutor,
Que
aqui na minha roça
Também
sou conhecedor.
Aqui
lido com ciências
De
alta categoria,
Eu
vou mostrá-las agora
Pra
você que não sabia,
E
eu vivo elas na prática,
Não
gosto de teoria.
Não
soletro uma palavra,
Não
sei juntar as vogais,
Mas
por aqui sei o nome
De
todos os vegetais,
De
toda árvore nativa
E
de todo os animais.
Conheço
todas as aves
Que
vivem na natureza,
Conheço
todas as plantas
Aqui
dessa natureza,
E
também todos os peixes
Dessa
minha redondeza.
Conheço
a terra boa
Para
fazer meu roçado,
Planto
nas fases da lua
Pra
dar o fruto vingado
Sei
medir terra e cubar
Sem
aparelho avançado.
Sei
calcular o valor
Quando
algo vou vender,
Sei
fazer todas as contas
De
quanto vou receber,
De
quanto eu vou lucrar
E
de quanto vou perder.
Das
artes que eu conheço
A
música é singular
Brincando
de aprender música
Viola
aprendi tocar
Deu
ritmo e melodia
O
tom vou logo buscar.
A arte
da poesia
E todo
o seu conceito,
Aprendi
fazendo verso
Com
a viola no peito,
Rima,
métrica, estrofe,
Eu
sei de tudo perfeito.
Aprendi
Literatura,
Em
Folheto de cordel,
Sei
as histórias da bíblia,
As
divindades do céu,
E
as mentiras que existe
Por
trás do Papai Noel.
Sei
lidar com a Medicina,
Sei
curar dores mortais,
Para
isso faço uso
De
plantas medicinais,
Que
encontro na natureza
Por
dentro dos matagais.
Não
sei de Agronomia,
Mas
sei cuidar do roçado,
Conheço
a melhor semente
Pra
dar um bom resultado,
Sei
o ano bom de safra
E
o ano azarado.
Não
toco fogo no mato
Preservo
a plantação,
Deus
me livre botar lixo
Dentro
do meu riachão,
Preservo
o ar que eu respiro,
Não
faço poluição.
Como
meus pais me educaram
Meu
filhos eu eduquei,
Tudo
que eu aprendi
Pra
eles já ensinei,
Nunca
me desrespeitaram
Nem
eles desrespeitei.
Eu
também sei ensinar
Meu
caro mestre e amigo,
Quer
assistir minhas aulas?
Se
quiser moço, lhe digo:
Minha
escola é minha roça,
Vem
cá estudar comigo!
(Cicero
Manoel Cordelista / Santana do Mundaú – AL / 27 de Março de 2015)