quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

TROVOADA EM MINHA TERRA

(Cícero Manoel)




Eu tava vindo da roça 
Quando o céu escureceu,
Senti uns pingos de chuva,
Um relâmpago desceu,
Lá no céu deu um estrondo
Que a terra estremeceu.


Eu fiz carreira pra casa
Com a enxada de lado.
A chuva foi aumentando
Eu fui ficando molhado
E a dez metros de casa
Já tava todo ensopado.


No alpendre da choupana
Joguei ligeiro a enxada,
A mulher abriu a porta
Me olhando amedrontada,
Tirei as botas ligeiro
E entrei com a coitada.


Tirei a roupa molhada
Botei logo uma enxuta
E fiquei numa janela
Junto da minha matuta
Olhando a chuva caindo
Na nossa terrinha bruta.


Jesuíno, meu miúdo,
Nos braços da mãe chorava.
Fechava os olhos com medo
Quando o trovão estalava,
Raimundinha assustada
Comigo se agarrava.


No estrondo do trovão
Meu guenzo deu um latido,
Emburacou pela porta
Andando meio perdido,
Foi pra debaixo da cama
E lá ficou encolhido.


O que via pela frente.
O vento ia balançando.
De repente uma pingueira
A cama tava molhando,
Me trepei num tamburete
E fui a telha ajeitando.


Assustada com os ventos
Minha mulher foi rezar,
Botou um terço na mão
E na frente do altar,
Ajoelhou-se pedindo
Pra tempestade abrandar.


Assim que a tempestade
Deu adeus e foi embora,
Eu, a mulher e os filhos
Fomos pro lado de fora
Nos deliciar na lama
Que ficou pra nós agora.


Nossa terra tava seca,
Há meses que não chovia...
A trovoada de hoje
Trouxe medo e alegria,
Levou embora o calor
E deixou a brisa fria.



Residencial Jussara, Santana do Mundaú-AL
21 de janeiro de 2020

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