segunda-feira, 12 de abril de 2021

A MULHER DA FACE OCULTA


 
Em tempo de pandemia
Pra não ser contaminado,
O cara pra todo canto
Tem que andar mascarado.
Por causa disso eu passei
Por um sufoco danado.
 
Outro dia pro trabalho
Peguei uma lotação
E no lugar do meu lado
Em certa ocasião,
Sentou-se uma mulher
Que prendeu minha atenção.
 
De cara eu vi que a mulher
Era um pouco madura,
Mas tinha um corpo bem feito,
Com uma linda cintura
E um cabelo escorrido
Que lhe dava formosura.
 
Fiquei uns cinco minutos
Somente olhando pra ela.
Eu olhava assim de lado
E pensava: “Como é bela!”
Mas a máscara que usava
Encobria o rosto dela.
 
Puxei conversa um momento
E lhe perguntei assim:
- Dona, você é solteira?
Ela me respondeu: - Sim!
Vivo à procura de alguém
Que queira cuidar de mim!
 
Eu falei: - E esse alguém,
Quem sabe se não sou eu!
Pedi então seu contato
E ela logo me deu.
Mas logo se despediu,
No outro ponto desceu.
 
Naquela mulher formosa
Fiquei o dia a pensar.
À noite liguei pra ela
Pedi pra lhe encontrar
E ela me disse assim:
- Venha comigo jantar.
 
Fui então a sua casa
E quando lá eu cheguei
Quando ela abriu a porta
Confesso, me assustei,
Me arrependi da hora
Que por ela procurei.
 
Aquela mulher que eu
Considerava tão bela,
Tinha um corte na buchecha,
A boca toda banguela,
Bigode e barba no queixo,
Parecendo uma mazela.
 
Seu nariz era roído
Como se fosse rasgado.
A língua cortada ao meio,
Um dente todo estragado,
Beiço enfolado pra fora,
Uma verruga de lado.
 
Eu disse: - A peste é quem vai,
Jantar com essa pintura!
Logo desapareceu
Toda a sua belezura,
Dei meia volta e corri
Pra longe da criatura.
 
Em casa eu apaguei
O seu contato ligeiro
E rezei pra nunca mais
Topar com o seu roteiro.
Hoje eu só paquero alguém
Se eu ver o rosto primeiro.
 
*************************

Cícero Manoel
Santana do Mundaú – AL
11 de abril de 2021
.......................................
Foto: Madalena Nascimento

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário