quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

MINHA VIRADA DE ANO



Moro com minha mulher
Lá no “Sítio Mulugu”
Ontem eu combinei com ela
De ir para mundaú
Ver a virada do ano
Mas veja só o “angu”.

Eu calcei as minhas botas
Vesti o meu casacão,
Ela botou um vestido
Branquinho igual algodão
E ficou toda bonita
Para aquela ocasião.

Nossa filha Rosenilda
De dezesseis de idade,
Também se “aprifilou” toda
Pra ir com nós pra cidade
Três da tarde estava pronta
Cheia de ansiedade.

Do sítio até a cidade
É um pedaço danado,
Eu gasto quase uma hora
Em meu burrinho montado
Perto da hora de irmos
Deixei o bicho selado.

Também selei um cavalo
Pra Rosenilda ir na sela
E levar lá na garupa
Minha mulher a mãe dela
Que estava toda bonita
Ha tempo eu vi ela bela.

Saímos pra mais de cinco
Lá do Sitio Mulugu
E lá pelas seis da noite
Chegamos em mundaú
E os animais amarramos
Lá num tronco de caju.

Depois disso nós saímos
Na cidade a passear,
Certo momento na praça
Fomos então se sentar
E ficamos esperando
A missa então começar.

Depois de alguns minutos
Naquele banco sentado
Me deu logo de repente
Um sono amaldiçoado
A mulher então me disse:
- eu vou andar um bocado!

Rosenilda então disse:
Eu também vou passear.
Eu disse assim: então vão
Que aqui eu vou ficar
Mulher aqui nesse banco
Um pouquinho vou cochilar.

As duas então se foram
E lá eu fiquei sentado
Depois me deitei no banco
Peguei no sono apressado
Quando me acordei a missa
Tinha ha tempo começado.

A praça estava vazia
Naquela ocasião
Quando olhei pra igreja
Estava uma multidão
Me levantei e pra lá
Logo tomei direção.

Quando cheguei na igreja
Eu não consegui entrar,
Não cabia mais ninguém
Lá não entrava nem ar
da filha e da mulher
então cheguei me lembrar.

As duas naquela hora
Eu comecei procurar
Passei mais de meia hora
Nenhuma pude avistar
Na igreja eu tentei
Mas não pude “emburacar.”

Lá tinha gente de mais
Aí na hora eu pensei:
“Com certeza estão lá dentro
Não sei porque madornei...
Elas vão sair na porta...”
Aí na porta fiquei.

Logo a missa terminou
E veja a situação,
Lá da igreja saiu
Um grande multidão
E eu fui quase pisado
Naquela ocasião.

Pros quatro cantos eu olhava
Pra ver se a mulher eu via
Na varanda da calçada
Quase um gordo me espremia
Olhei pra praça e na hora
Tive uma grande agonia.

Subiu-me um grande calor
Deu-me um nervoso danado,
Eu vi num banco da praça
Um maloqueiro sentado
Acochando Rosenilda
Num amasso desgraçado.

Falei sozinho: infeliz,
Vou dar-lhe um cacete agora!
A calçada da igreja
Fui descer naquela hora
Quando o pé ficou no ar
Gritou alto uma senhora:

-Olha os fogos lá no céu
Feliz ano novo gente!
Inventei de olhar pro céu
Foi tudo tão de repente
Não deu pra voltar pra trás
Eu fui com tudo pra frente.

Danei a bunda no chão
Caí com tudo embolando
Desci os degraus ligeiro
Caí embaixo rolando
No céu naquele momento
Vi os fogos estourando.

Naquela queda uma bota
Não sei aonde parou,
Quebrei o braço direito
A coluna deslocou
Fiquei com um dente mole
E um dedo envergou.

Gritaram: - o homem caiu!
Meu deus ajude o coitado!
Aí eu fechei os olhos
Por minutos desmaiado
Acordei com Rosenilda
E a mulher do meu lado.

Estava numa ambulância
Indo para um hospital.
- Feliz ano novo pai!
Tudo vai ficar legal.
Falei: - se eu escapar
Eu vou lhe matar no pau!

Da queda que eu levei
Você é grande culpada
Só inventei de descer
Aquela grande calçada
Depois de lhe ver cum macho
Sendo por ele agarrada!

Assim que eu disse isso
A mulher interrompeu,
Disse deixe de besteira
Nossa filha já cresceu
Tá na idade de namoro
Ainda não percebeu?

Aí eu lhe perguntei:
Aonde você entrou
Bastante lhe procurei
Você não me procurou
Disse ela: - eu tava na missa
Seu sono você matou?

Aí não falei mais nada
Aguentei tudo calado
Viemos pra o hospital
Aqui estou internado
Começando o Ano Novo
Numa cama arrebentado.

Tomara que a mulher
Estava a missa assistindo
Porque se ela estiver
Pra esse cabra mentindo
Juro vou fazer chorar
Quem ontem estava sorrindo.

Se eu descobrir que ela
Na missa não se encontrava
E que estava fazendo
O que a filha estava
Mato essa desgraçada
Se acaso ela me chifrava.

1 de janeiro de 2014

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