domingo, 14 de julho de 2013

ADEUS MEU INTERIOR



 















Hoje de manhã deixei
Meu recanto esplendor
Trago comigo no peito
Melancolia e dor,
Trago comigo a saudade
Do meu velho interior.

Deixei na nossa tapera
Minha mãe numa janela,
Na saída eu olhei
Bem firme nos olhos dela,
Vi seus olhinhos chorando,
Até mais mãezinha bela.

Deixei papai no terreiro,
Num velho banco sentado,
Segurando uma enxada
Com um olhar debruçado,
Adeus meu pai, meu herói!
Até mais meu pai amado!

La no terreiro também
Ficou Zé, Mané e João,
Natalício, Benedita
E Maria Conceição,
Adeus irmãos! Vou levar,
Vocês no meu coração.

Lá no canto da parede
Minha viola eu deixei,
Com ela em lindas noites
Muitas canções eu cantei,
Pensando em belas moças
Pelas quais me apaixonei.

No aceiro do terreiro
Eu deixei o meu burrão,
Um burro muito bonito
Que causa admiração,
Nele eu andei montado
De inverno a verão.

Deixei o meu par de botas
Com o solado acabado,
Deixei o meu chapéu preto
Na parede pendurado,
Também deixei meu facão
Bom de corte embainhado.

Deixei meu cachorro Duque
Um pé duro caçador,
Pra pegar “Tejo” nas tocas
Não tem outro não senhor!
Até mais meu velho Duque
Adeus meu interior.

Deixei o fogão de lenha,
Nossa tapera acabada,
O campo, a roça, as montanhas,
Pedregulho e estrada,
Caminho, grota, ladeira,
Até mais minha morada!

Tô indo pra capital
A vida lá vou tentar,
Dizem que lá tem emprego
Pra quem quiser trabalhar,
Se as coisas não derem certo
Eu tornarei a voltar.

(Cicero Manoel / Maceió – AL / 17 de Dezembro de 2012)
 Gravura do próprio autor do texto

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